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Off Pitch

Blogue do treinador Bruno Dias

Futebol positivo! Moda ou mudança de paradigma?

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A necessidade e o gosto de ter bola sabendo usa-la de forma eficaz e eficiente e na ausência da sua posse ter um comportamento proativo no sentido de a reconquistar vendo nela a solução para todos desafios que o jogo nos é capaz de lançar a cada segundo. Agir sobre o jogo e ter uma atitude menos especulativa aguardando que os deuses do futebol protejam a forma pouco audaz como o estamos a abordar.

Esta ideia vai muito além das quatro linhas, diria que o desempenho em campo será o reflexo do que se passa fora dele e começa na liderança, sobretudo, do treinador mas também diretiva através dos valores que defendem e, mais importante, que praticam nas suas ações e na sua comunicação tanto interna como externa.

Implicitamente, esta noção está ligada a uma visão mais abrangente e, necessariamente, de médio prazo onde, muitas vezes, o imediatismo é ferido pela necessidade de ter alicerces mais fortes que obrigam a investir mais tempo na sua construção, contudo são estes que permitirão alcançar uma consistência mais forte e duradoura.

Resumindo, será um futebol que vê nas suas virtudes a sua principal arma para alcançar o sucesso e que reconhece que as competências alheias poderão, momentaneamente, vencer as suas e que apesar de as reconhecer e valorizar em momento algum colocam em causa a necessidade de afirmação própria permanente das suas competências e da sua valorização.

Que a discussão da moda se transforme no começo de um novo paradigma.

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A contratação de um treinador...

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O que têm Leonardo Jardim e Javier Calleja em comum?

Ambos são treinadores de futebol, foram despedidos no decorrer da época e contratados, no decorrer da mesma, após os seus sucessores não terem tido os resultados esperados pelas respectivas direções, do Mónaco e Villarreal.

A contratação de um treinador é decisão chave e transversal em qualquer projeto desportivo, assim como um CEO, numa organização, deve ser ele a liderar e implementar todos os processos inerentes à visão desta.

É, portanto, peça chave para a execução da estratégia desportiva definida pelo clube.

A estas funções está habitualmente associada uma permanência a longo prazo, o que a nos nossos dias, é cada vez menos habitual pelo mundo fora.

Nenhum Treinador/CEO (sobre)vive sem resultados, importa também fazer a análise do seu desempenho na medida dos meios que este possuí e no quadro contextual próprio da competição, do mercado, entre outros fatores.

As pressões externas em todos os mercados são influenciadoras dos decisores e, não raras vezes, tornam conjunturais (ex: um ciclo menos positivo de resultados) em questões estruturais (ex: alteração de visão do clube).

Aos decisores, leia-se, presidentes, acionistas e/ou outros cabe-lhes a responsabilidade de saber distinguir cada momento, cada ciclo da sua organização sem nunca colocar em causa a visão pela qual foram incumbidos, pelos seus pares, de tornar real.

O mercado de janeiro

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No mundo do futebol, não há quem fique indiferente ao mês de janeiro, altura em que reabre o mercado de transferências. Neste mês, é possível aos clubes libertarem jogadores que não acrescentam valor a um projeto (mas que se podem tornar centrais noutro) e procurar soluções que aumentem a qualidade e competitividade. É ainda possível aliviar a folha salarial, caso seja necessário. Certo é que até dia 31 de janeiro, há interferências no trabalho diário.

Cabe ao treinador estar informado, agir no timing correto e blindar o grupo. O treinador e a sua equipa técnica conhecem melhor do que ninguém os jogadores que orientam e com os quais passam várias horas todas as semanas.

Idealmente, devem ser informados pelos jogadores da vontade de sair ou de propostas aliciantes que possibilitem uma melhoria das condições do atleta. Obter essa informação permite uma rápida ação. O treinador deve agir em prol do bem do projeto sem “cortar as pernas” aos jogadores. Se o jogador pretende sair para um clube que lhe oferece melhores condições, o papel do treinador é pensar imediatamente no seu substituto, dentro ou fora do quadro atual de jogadores. O que muda com esta saída? Qual o plano se não for possível contratar um substituto?

Blindar o grupo é essencial. Se nalguns contextos, devido ao aparato mediático, pode parecer mais complexo, esta blindagem é essencial em qualquer escalão. Aliás, no Campeonato de Portugal o “euro é mais caro” do que na primeira divisão e o jogador poderá andar mais distraído. É importante passar a mensagem de que só com uma dedicação constante ao clube que se defende se pode evoluir e que os contratos são válidos até ao último segundo.

PS: A propósito dos períodos de transferências e dos bastidores do futebol, recomendo o visionamento de “Sunderland ´Till I Die”, a nova série documental do Netflix sobre a paixão dos adeptos por um clube em apuros.

As ambiguidades do futebol português

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Terminou a jornada 13 da liga portuguesa, com o Rio Ave em sexto lugar, a três pontos do quinto classificado, lugar de acesso a uma prova europeia. Quinto lugar esse, ocupado pelo Vitória Sport Clube que na semana anterior, passou pelo dilema do seu treinador. Luís Castro assumiu ter tido um convite do Reading, vigésimo primeiro classificado do Championship (segunda liga inglesa), e ter equacionado a possibilidade de rumar a Inglaterra, não só pela questão financeira mas pela abertura de portas do mercado inglês e de um projeto ambicioso. Decidiu recusar e continuar a liderar o emblema minhoto que procura garantir a presenças nas provas europeias. O Reading manteve a vaga em aberto e só a quis preencher com um determinado perfil. Viu em José Gomes, treinador do Rio Ave, esse mesmo perfil e contratou-o. José Gomes trocou uma equipa com francas possibilidades de terminar a liga em “lugar europeu” por um clube histórico (fundado em 1871) mas que lutará para não descer.

Esta é a história da busca de um clube inglês por um treinador português. Numa visão mais abrangente, compreendemos que o mercado inglês gera valor financeiro muito superior ao mercado nacional e que possibilita que um clube que está um pouco acima da “linha de água” na segunda divisão inglesa resgate os melhores ativos de clubes “europeus” portugueses.

Este é um indicador claro que a I Liga Portuguesa, está longe, cada vez mais, da elite europeia. A capacidade de gerar valor nesta liga é pouco relevante no contexto global do futebol, apesar de crescente valorização dos seus maiores ativos, principalmente, dos treinadores, os portugueses, que vão como em outrora descobrindo mundos e afirmando a sua qualidade juntos das elites mundiais. Como avaliar este paradoxo do futebol nacional? Mais que uma explicação conjuntural é necessária uma reflexão estrutural. Estes deverão ser os temas na ordem do dia...certo?